sábado, 21 de julho de 2012

Biking - Santiago até Valle Nevado (Chile)


A falta de informações sobre a viagem de bike de Santiago até o Centro de Ski Valle Nevado me motivou a escrever este relato, o qual dedico aos meus amigos Roberto Carvalho e Fabiana Santos Carvalho devido a valiosa ajuda na escolha do dia correto do passeio (consultamos a previsão) e da paciência ao me acompanharem nas compras e no transporte da bike. 

A kilometragem (que é aproximada, mas uma boa referência) se refere ao meu ponto inicial, +/- 10 km antes do início do Camino a Farellones (25 Km) e a Valle Nevado (15 km depois)

RESUMO
Data: 03/07/2012
Km percorrido de ida e volta (apto até apto): 100 km (aprox)
Tempo total: 9:30 horas (7:30 para subir e 2:00 para descer)
Diferença de altitude: 2.000 m (de 600m a 2600m)
Saída: 08:00       
Retorno: 17:30
Previsão meteorológica do trecho: Temp.Mín=-2, Temp.Máx=5, Sensação Térmica=-23, Neve=0, Chuva=0, Nível de Congelamento=3.000m


Bike: quadro Proshock Teaser, câmbio Shimano Deore e Deore LX, freio à disco e hidráulico Shimano, amortecedor Proshock E80R, roda 26" Vzan Strike, pneu Geax Sturdy, banco espumão confortável pra K7.

O DESTINO: O Valle Nevado (área em azul) é talvez o mais famoso centro de ski do Chile, está situado a 40 km a leste dos limites de Santiago, juntamente com outros centros de ski (áreas em vermelho e amarelo).




A ESTRADA: É toda de asfalto e é conhecida como Camino a Farellones (que é um bairro antes do Valle Nevado onde estão localizados os outros centros de ski). A bifurcação está mais ou menos no km 30 que depois passa a ser chamada Camino a Valle Nevado onde a kilometragem é zerada e há mais uns 15 km a percorrer. Como há risco de nevar constantemente é necessário o carro portar correntes especiais para encaixar nas rodas e com isso não atravancar o trânsisto. No caminho, antes do posto da polícia, há uma áreas onde o pessoal as aluga por 10.000 pesos (cerca de 40 reais). Eles medem o pneu, escolhem a corrente correta e te entregam, mediante o pagamento do aluguel e de uma garantia de que elas serão devolvidas (ou um documento ou mais dinheiro). Na volta, passamos lá e devolvemos. No posto da polícia, eles te param e perguntam se nós as temos e, aleatoriamente, escolhem um para verificar. Sem elas não se pode subir e nem se consegue quando há gelo. 


Em amarelo, 7 km não completados
Neste trecho a estrada inclinou
Os caracolles
O VESTUÁRIO
Cabeça: Toca de motoqueiro (x2) mas só usei uma
Tronco: 2a pele para até -15 graus + 2a pele que mantém temperatura + blusa de fleece + jaqueta corta vento a prova d'água com capuz.
Pernas: 2a pele para até -15 graus + 2a pele que mantém temperatura + calça corta vento a prova d'água.
Mãos: luva fina + luva para frio (mas não pra muito frio)
Pés: sapatilha + meia para frio (mas não pra muito frio) + saco plástico (era o que eu tinha)

OBS 1: As 2as peles são aquelas roupas apertadas que vestimos diretamente sobre o corpo. As melhores transportam o suor para fora do tecido mantendo a pessoa seca e aquecida. Há variações quanto a capacidade, elasticidade, conforto, etc.
OBS 2: Nestes lugares há mais opções de compra e são mais especializadas, por isso comprei umas coisas lá.

A VIAGEM

Lua vista do apto às 06:30
Acordei por volta das 6 hs com intenção de sair às 7 hs mas os dias no inverno são bem curtos por lá e ainda estava escuro. Como planejava tirar umas fotos retardei a saída para pegar claridade, porém não me atentei que gastaria 1 hora para chegar até os limites de Santiago e começar a pedalar na trilha.

Na garagem do edifício
Km 0 - Acabei fazendo tudo bem devagar e fui sair por volta das 8 hs somente. A garagem fica no 3o. sub-solo e achei que daria para sair como estou na foto. Porém, à medida que fui chegando perto da saída no térreo senti que seria complicado ficar só com aquilo e logo coloquei luva e proteção na cabeça.

MallSport - Um shopping só de lojas de esportes
Km 9 - Os 10 primeiros kms foram feitos deixando o apto e saindo dos limites da cidade e por isso a velocidade oscilava em torno dos 12 km/h mas já eram de subida e, portanto, já me cançavam. No caminho registrei a fachada do MallSport, na avenida Las Condes, avenida que dá acesso à estrada para os centros de ski.

Início do Caminho a Farellones
Km 10 - Depois de um chata 1 h perdida cheguei na boca da estrada. Logo a direita há uma loja que aluga equipamentos para esportes no gelo, já estava aberta. Por ali também ficam vários caronistas com seus skis e snow-boards esperando almas caridosas.

Vista da região no começo
Pouco depois do início da estrada a sede já começava a aparecer e comecei a temer pela pouca quantidade que havia levado. Numa pequena parada já podia avistar parte da cidade ficando para baixo. Mais além, o frio se intensificou de maneira que fiquei assustado pois se continuasse naquele rítmo a viagem teria que ser abortada muito antes do que pensei. E todo o meu esforço de transportar a bike teria sido em vão.

Susto: pés congelando
Km 13 - Neste ponto tive que colocar quase todo meu arsenal de roupa com todas as calças e todas as blusas mas o ponto que estava mais problemático eram os pés. Eles já estavam congelados e tive que envolvê-los com sacos plásticos para tentar descongelar. Não podia colocar mais meias pois a sapatilha ficaria muito apertada. Faltou meia apropriada. Fui fazendo movimentos com os dedos dentro da sapatilha enquanto pedalava.

1000m - Havia muito ainda por vir
Por sorte o frio estabilizou e a temperatura não baixou mais tão rápido, mas ainda demorei para sentir meus dedos novamente até o momento que já não me incomodavam mais.

1a montanha com neve avistada
Precisamos de resultados parciais que não só nos indiquem que estamos no caminho certo mas que renovem nossas forças e nos motivem a conquistar o objetivo maior. Um pouco mais de subida e comecei a avistar as primeiras montanhas com neve. A água estava acabando, mas isso dava para resolver depois (será?). Aqui eu já estava sentindo calor e tirei mina blusa de fleece, que coloquei somente perto do gelo.

Iníco dos caracolles
Km 20 - A partir deste ponto a estrada inclinou de vez e a velocidade média baixou para 6 km/h, sem trechos de refresco. Alternei entre a coroas 1 e 2 inúmeras vezes. Para vencer as curvas em forma de cotovelo tive que usar a 1-1 pois não queria me cansar em vista do que ainda tinha que pedalar.

Visão dos caracolles
Km 21,5 - Curva 7 - As curvas são em forma de cotovelo, são numeradas (Farellones está na curva 40) e, devido a sequência delas, esta estrada também é conhecida por ter caracolles. Ao fundo, as montanhas com gelo já não estavam tão altas, o que renovava as energias. Para meu azar a marcha 1-1 começou a enroscar nos raios e não pude mais usá-la. Dei uma olhadela mas não pude diagnosticar o problema, resolvi que era melhor fazer com que a 1-2 fosse minha marcha mais baixa do que tentar resolver e estragar de vez. Baixou o espírito do Ayrton Senna, as marchas estavam acabando, assim como a água. 

Km 25 - Parada para mais um papel de parede

Para mim, km 29, cada vez mais perto do gelo

Uma raposa (zorro) à beira da estrada
Curva 14 - Um dos prêmios que recebemos ao praticar esportes junto a natureza é de encontrar animais diferentes do nosso dia a dia. E a água estava por acabar.

Ponto de água estratégico
Km 33 - Curva 15 - Neste momento tinha decidido que beberia qualquer água que encontrasse. Pensei no filete de degelo descendo a estrada no início do caminho e assumi que poderiam haver outros. Ou até mesmo encher minha garrafa de neve e tentar esquentá-la para que virasse água. Bom foi só pensar nisso que na curva seguinte encontrei a entrada do Parque Cordillera Yerba Loca e, pasmem, uma torneira a esquerda da sua entrada, bem abaixo do local que apoiei a câmera para tirar esta foto.

Mirante a 1800m
Segui em frente após tomar mais de 500 ml de água sem economizar, encher as 2 garrafas de 500 ml e colocar em cada uma delas uma pastilha de SUMM (repositor eletrolítico) e logo encontrei um mirante a 1800m. Não o explorei para não perder muito tempo, deixei para fazê-lo quando fosse de carro com a família. Eis um vídeo deste ponto.

Aviso de estrada com gelo (hielo)

Dá para esquecer do relógio

2000m e subindo

Curva 29 - Outro marco importante pois a câimbra começava a aparecer do lado interno da coxa. Senti falta da marcha mais leve e tentei vencer as curvas. Foram várias paradas até que a câimbra sumisse. Decidi descer da bike e fazer as curvas andando, assim descançava um poucos os músculos que estavam sendo mais exigidos sem parar de avançar, pois o tempo era bem mais rápido do que eu.



Neve como pano de fundo

Várias trilhas saem deste ponto

Sentia que estava chegando em algum lugar


Entrada de Farelones - Ainda mais 15 km
Curva 40 - 2300m - Enfim Farellones, já tinha uma conquista. A partir deste ponto a neve ficou bem do meu lado. A temperatura até aí continuava suportável. Mas depois....

Depois deste top há uma descida de mais ou menos 1 km que serviu para descançar um pouco e filmar enquanto pedalava. A subida inclinando e a mão gelando.

Não podia deixar de registrar
O visual mudou, de encostas de montanhas de cascalho passei para o topo delas com neve. O frio chegou forte. Coloquei minhas duas luvas mas as mãos ainda sentiam frio. Aprendi com o caso dos pés que não se pode deixar congelar para fazer algo pois é demorado fazer a temperatura voltar. O problema é que não tinha mais nada para colocar. Tinha que encarar assim mesmo e ir até onde fosse possível. Eis um vídeo da área.

Havia barro entre o asfalto e o gelo
Somente a estrada de asfalto cortava o mar de gelo. O dia estava bem legal, até aqui achei que conseguiria. Porém o frio foi se intensificando. Em vários momentos cruzava com pickups do pessoal que faz a manutenção da estrada. Numa dessas o motorista buzinou e fez um sinal negativo. Como ainda estava bem, decidi ignorá-lo e continuei. Eis um vídeo.

Hotel Valle Nevado em vermelho, mais a esquerda

Última foto da subida - operação cancelada

Estas são as últimas fotos que tirei na ida. Foi o ponto mais próximo que cheguei do Valle Nevado (região com o prédios lá em cima). O famoso hotel Valle Nevado aparece em vermelho. Ainda faltavam 7 km, já eram 15:30 e estava a mais de 40 km de casa e sem lanterna, pois não esperava que fosse demorar tanto. Mas o problema maior mesmo foi que minhas mãos congelaram, conseguiria resolver todos os outros problemas mas não o congelamento. Até a câimbra que aparecia a todo instante era manipulável. O gelo estava insuportável e decidi voltar, a 2600m.

Estava desesperado na volta, tinha pedalado um bom trecho então tinha percorrer o mesmo trecho só que agora mais rápido e, consequentemente, com mais sensação de frio. Minhas mãos estavam doendo tanto que pensei em parar e pedir para que algum dono de carro deixar que eu as esquentasse no ar quente. Senti como se minhas mãos estivessem dentro de uma pedra de gelo. Não pedi nenhuma ajuda, desci apenas com uma das mãos revesando-as entre as minhas costas (para não pegar vento) e o guidão. Fazia movimentos de abrir e fechar enquanto voltava, o que amenizou a dor. Consegui esquentá-las mesmo somente na entrada de Farellones, mas ainda sinto (20 dias depois) que a ponta de dois de meus dedos da mão estão com uma sensibilidade diferente da dos outros, uma herança do frio. Confira aqui um vídeo que fiz no início da descida.


O que sempre vemos nos filmes, vi ao vivo.
No Valle Nevado, assim como nos outros centros de ski, tudo se paga (exceto andar por lá e olhar) e não é barato. Assim várias vans levam pessoas para brincar (snow-board, bóia-cross, ski) em campos abertos conhecidos por todos que ficam antes do Centro. São lugares com alguma inclinação e uma área de escape grande. Encontrei várias pessoas brincado nestas áreas.



Me, mim, comigo, por eu mesmo.

Outro visual

CONCLUSÃO
  • Faltou água, acredito que minhas câimbras apareceram forte também pela economia na hidratação com eletrolíticos. Uns 2 litros seria mais adequado para começar e n meio do caminho reabastecer. É bom também levar as pastilhas de SUUM que falei pois não pesam.
  • Cuidei bem do aquecimento da cabeça, tronco e pernas mas faltou 2a pele para as mãos e pés.
  • Deveria ter saído mais cedo pois tinha 10 km de cidade para vencer.
  • Testar a bike depois de uma revisão ou antes de um grande passeio, todas as marchas e freios.
  • Com algum conhecimento de manutenção (para perder o medo de por a mão) acho que resolveria o problema do câmbio enroscando (apenas um parafuso meio solto que entortava o câmbio traseiro)
  • Um termômetro para registrar tudo seia bem legal e ajudaria em passeios futuros, mas eu chutaria que cheguei entre -15 e -10 no momento que abortei a missão. Estava chegando no nível de congelamento previsto pelo site que era de 3000m.
  • Uma lanterna é sempre bom em passeios grandes, nunca se sabe o que vai acontecer e te dá mais confiança. No meu caso, já tinha decidido que voltaria até mesmo no escuro, seguindo os carros. Nestas decidas as bikes andam junto com os carros.
  • Além de vinhos, o Chile é bom para se comprar tenis (Adidas e Nike) e bikes, principalmente a Trek, que é muito forte lá.


Há um pequeno sentimento de frustação por não ter conseguido chegar ao meu destino, tenho conciência de que pequei em alguns pontos e o planejamento não foi correto. Isso pode gerar problemas em coisas mais sérias.

Porém, alguns dias depois fui com a família de carro para o Valle Nevado e, passados uns 2 km do ponto em que abortei, começamos a notar que a pista estava ficando molhada. Andamos mais um pouco e encontramos uns caras se propondo a instalar as correntes pois eles disseram que havia gelo no asfalto mais pra frente. Ficamos um pouco na dúvida se isso era verdade ou não mas resolvemos instalar (7.000 pesos). E isso foi providencial pois realmente havia gelo, até os carros 4x4 tinham dificuldade em andar sem correntes, quem não tinha colocado estava parado colocando e não eram poucos. Para instalar e retirar até que não é complicado, alguns modelos são bem mais fáceis do que outros, mas o problema é ficar se arrastando no chão, abraçando o pneu e sujando as roupas. Além de que o modelo que me passaram requeria um alicate para travar a corrente na roda e o instalador teve que fazer uma gambi para prendê-la pois estava um pouco curta. Acabamos indo e voltando até o Valle Nevado com as correntes e andamos um bom trecho no gelo. Realmente é necessário, pois desci um pouco do carro para ver como era e senti como se pisasse num sabão e com os pés molhados. Na volta, resolvi eu mesmo retirar as correntes para não precisar pagar os 3.000 pesos, bom aconteceu tudo isso que falei, sujei a roupa e luvas e tive que abraçar o pneu com barro. Isso sim é uma economia porca.
O que ameniza minha frustação é o fato de que precisaria iniciar o percurso bem mais cedo para ter tempo para vencer estes pontos de gelo andando. Ou será que há correntes para roda de bike? Será?

Bom, espero que tenham gostado e que este relato sirva para alguém. No verão dizem que a estrada ferve de ciclistas, já no inverno...

Um abraço e até a próxima.

6 comentários:

  1. Grande Zé!

    Sensacional! Sem palavras!
    Se tivesse me convidado, não teria deixado de levar a lanterna....rs
    Vai pedalar o dia inteiro? Leva a lanterna!
    Fantástico Zé. O visual é lindíssimo e sua coragem é de dar inveja.
    Valeu pelas lições... pra quando a gente for fazer a virada das Cordilheiras, quem sabe no próximo ano.

    Parabéns!!
    O Blog ficou chique também.

    Abs
    Wander

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  2. Roberto queria aqui te parabenizar pela oportunidade em apreciar as belas paisagens e acompanhar com fotos sua performance no desafio de pedalar naquele frio doido .... além de nos proporcionar uma matéria que dá bem a noção de fazer uma aventura e espero que venham muitas outras iguais ou mais lokas que essa ..
    Quero depois ver as fotos oficiais e serem mostradas pessoalmente sendo contadas pelo personagem principal
    Grande e forte abraço e atá quarta na reunião .. leve as fotos e vídeos para vermos
    Gustavo Abelha - Tribo da Trilha Aventuras

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  3. Prezado, parabéns pelo blog mas principalmente por compartilhar sua aventura!
    Estou me preparando para ir agora em Abril de 2014. Suas dicas foram muito úteis mesmo!!! Obrigado e que Deus te abençoe!!!

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  4. Cara, que show. Gostaria de saber se você fez esta viagem em julho. Estou pensando em fazer em outubro. Abraços.

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    Respostas
    1. Caro isnpms, fui na primeira quinzena de Julho. Em Out vc deve conseguir chegar lá no Valle Nevado. Que lembrança! Que aventura! Sensacional, faça sim. Abs

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